quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Atualidades sobre emoções

Vejam como o tema "emoção" é atual:

NEUROCIÊNCIA - Suzana Herculano-Houzel

Decisões, decisões...

Estou mais uma vez nos EUA, desta vez para me juntar aos quase 30 mil neurocientistas que participam do congresso anual da especialidade para trocar figurinhas sobre nossas descobertas mais recentes. Deixei para escolher aqui o assunto da coluna, o que logo pareceu uma péssima decisão, dada a concentração altíssima de assuntos por metro quadrado no centro de convenções de San Diego: motivação, atenção, distúrbios variados, estresse, violência e afeto são temas de palestras simultâneas em salas vizinhas. O que escolher? O próprio processo de escolha, ou tomada de decisões, soa, portanto, apropriado. Como o cérebro toma decisões é um assunto quente na neurociência atual: só neste congresso, é possível assistir a mais de 40 palestras sobre o tema no espaço de cinco dias e conversar com outros 172 pesquisadores apresentando seus trabalhos a respeito. A neurociência vem mostrando de várias formas que, ao contrário da crença comum de que as decisões, sobretudo as acertadas, são puramente racionais, as emoções são fundamentais para o processo. Mais do que acrescentar "cor" à vida, as emoções fazem o cérebro sentir na carne os resultados reais de decisões favoráveis ou desfavoráveis e aqueles esperados de ações que podem ter conseqüências positivas ou negativas.
Um novo estudo apresentado no congresso mostra que as emoções participam do processo de decisões até onde se espera de seres humanos os julgamentos mais racionais e imparciais: no tribunal, onde juiz e jurados não têm envolvimento pessoal com os casos julgados e devem decidir quando e quanto punir. Segundo o estudo, decidir punir ou não punir depende de um julgamento de responsabilidade, base da imputabilidade criminal, que de fato envolve processos racionais, com a ativação do córtex pré-frontal. No entanto, decisões sobre quanto punir parecem ser puramente emocionais, relacionadas à ativação da amígdala no cérebro, estrutura responsável pela expressão emocional no corpo.Soa ruim constatar que a punição aplicada a um criminoso pode depender da resposta emocional dos jurados? No auditório ao lado, um especialista em neurocriminologia atesta sobre o resultado da incapacidade de integrar emoções ao nosso processo de decisões: sociopatias, que dão tanto trabalho a juízes e jurados. O componente emocional das decisões, inclusive as legais, talvez seja assim justamente o que mantém saudável uma sociedade que se deseja racional, como a nossa.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira & Lent) e de "O Cérebro em Transformação" (ed. Objetiva)
suzanahh@folhasp.com.br

2 comentários:

Bruno Marques disse...

Um texto que mostra não apenas o papel da emoção, mas também aponta o quão sem sentido é o fato de muitos tentarem atingir o limite do nível racional. Sentir emoção é o que nos faz humanos... se não mais o fizermos, seremos o que então?

Bido, adorei o texto, muito bom!!!

Prof. Bido disse...

Bruno:

Ok. Que bom!

abraços

Bido